Powered By Blogger

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Preparador físico do Petrolina se divide entre campo, escola e viatura

 

Gilberto Feitosa concilia os treinos físicos dos atletas com o trabalho
no colégio que dirige e na delegacia onde é investigador policial

Por Lula Moraes Petrolina, PE
No futebol profissional, ainda há casos em que o amadorismo sobrevive em meio aos altos salários e status do esporte moderno. No Campeonato Pernambucano, o Petrolina que penou para inscrever seus jogadores no estadual, conta com o trabalho de um preparador físico multiuso. Gilberto Feitosa coloca os atletas para correr, a noite administra uma escola e em seguida vai prender bandido e manter a ordem nas ruas. As 24 horas são curtas para o policial, educador e preparador físico Feitosa.
Gilberto Feitosa Petrolina (Foto: Lula Moraes / GloboEsporte.com)Quando termina o trabalho no campo, Gilberto Feitosa vai "prender gente" (Foto: Lula Moraes)
- É corrido, tento ajustar a preparação física aos outros trabalhos. Sou vice-diretor do colégio, mas é a noite e fica fácil para combinar com os treinos. Na polícia civil sou investigador plantonista, então tenho expediente de 24 horas e três dias de folga. No dia que estou na delegacia, negocio com os colegas e o delegado para sair na hora do treinamento e pagar as horas na minha folga. É por amor, se pudesse viveria de futebol.
Aos 41 anos, Gilberto Feitosa é servidor público de Juazeiro, cidade-irmã de Petrolina, na margem baiana do Rio São Francisco. Está há vinte anos na polícia civil e há dez como educador por conta da formação superior em educação física, onde é vice-diretor da escola estadual Antonílio da França Cardoso, no bairro Dom José Rodrigues, na periferia Juazeirense.                  
- As pessoas me questionam como consigo aguentar o ritmo puxado. Realmente cansa muito, mas são apenas quatro meses de Campeonato Pernambucano. Às vezes acontece de uma esticada com um Brasileiro da Série D, por exemplo, no entanto não é o ano todo. O período em que pego mais pesado no clube é de pré-temporada, em janeiro, quando estou de férias da polícia e da escola, então fica perfeito para trabalhar intensamente com os atletas. Dá para aguentar.
Gilberto garante que apesar o cansaço, o policial e o diretor não influenciam negativamente o preparador-físico Feitosa. Seja qual for o estresse, ele é esquecido na hora de trabalhar com os jogadores.
- Acontece de no dia anterior eu presenciar uma cena de crime, ver cadáver, pegar bandido e quem sabe trocar tiros (apesar de há anos isso não acontecer) ou ter a insubordinação de alunos, chego no Petolina e "esqueço". Não deixo essas coisas afetarem o meu trabalho e o prazer que ele me dá é relaxante.
Mas se os problemas das jornadas alternativas não chegam ao gramado do estádio Paulo Coelho, em alguns casos as realidades de Feitosa se misturam aos treinos do Petrolina.
- Já teve situações de eu ir treinar os garotos do Petrolina e encontrar um ex-aluno meu. Fico pensando "conheço esse garoto' e de repente os meninos é que dão o primeiro passo com um "professor, você aqui?". Teve muito garoto danado que meu deu trabalho na escola que depois reencontrei, mas sem problema, pois eles sempre me respeitaram. No atual elenco, tenho apenas o atacante Gustavo como ex-estudante do colégio que trabalho. Agora, sobre o meu lado policial, poucos comentam. Algumas vezes alguém brinca quando digo que vou embora continuar o trabalho. "Vai prender gente, né, professor?" 
       
Antes de prender gente, Feitosa foi preso pela paixão futebolística quando chegou a ser aspirante a jogador de futebol, no final da década de 80. Seu maior orgulho foi ter convivido com o time do Bahia campeão brasileiro de 1988. Gilberto era atacante e colega do centroavante Charles no juniores e admirava meia Bobô e companhia.
- Eu treinava com aqueles caras, pegava o mesmo ônibus que eles. Era menino e quando o profissional precisava de alguém para compor o elenco nos treinos, me chamava. Foi uma honra, pena que a a carreira acabou não deslanchando. Me empreguei na polícia e segui na instituição. Anos depois resolvi fazer um curso de educação física, no qual me formei em 2000. Só que quando ainda estava na faculdade, eu já trabalhava com os clubes, como Petrolina e 1 de Maio. Ia colocando em prática o que eu ainda estava aprendendo.
petrolina greve (Foto: Lula Moraes / GloboEsporte.com)Feitosa liderou a greve para receber salários
atrasados (Foto: Lula Moraes)
Na crise enfrentada pelo Petrolina durante a passagem de ano, Feitosa foi um dos  líderes da greve dos jogadores que quase tira a Fera Sertaneja do Pernambucano. Sem treinador, equipamentos, com três meses de salário atrasado e um presidente improvisado, o clube estava sem rumo. Assim como na vida pessoal, Gilberto acumulou função e foi preparador físico e treinador do grupo na pré-temporada até não enxergar mais condições de trabalho. Após a manifestação, um treinador assumiu, mudou o presidente, as inscrições dos atletas foram realizadas, equipamentos entregues pela Federação Pernambucana e o salário acertado.
- É uma pena que com todo o nosso esforço, nossa luta, deixaram o clube jogado dessa forma. É de deixar qualquer um desestimulado. Gosto muito do que faço, mas não trabalho de graça e sem condições é pior ainda, não vou ser demagogo. Ainda bem que foi resolvido e agora temos que correr contra o tempo - criticou Gilberto, que entre muitas improvisações, junto ao preparador de goleiros, teve que consertar as bolas furadas do Petrolina.
Apesar de ter três salários, Gilberto leva uma vida simples de quem precisa manter a mulher e dois filhos. O que ganha num clube pequeno do futebol pernambucano é maior do que recebe como homem da lei ou como gestor educacional. Por isso, além de ser prazeroso, a preparação física serve como acréscimo na renda da família Feitosa. Mas se fosse para escolher uma das três profissões, com a garantia de um bom pagamento, o menino das categorias de base do Bahia fala mais alto.
- Gosto muito do que faço, seja qualquer um dos três serviços, mas se fosse para escolher, seria preparador físico. Estudei para isso, essa era a minha intenção quando fiz educação física. Poxa, analisar os atletas com calma, com equipamento certo, focado apenas naquilo seria um sonho. Quando o Petrolina enfrentou Sport e Náutico no ano passado, elogiaram a correria dos jogadores da gente e consequentemente o meu trabalho. Quem sabe numa dessa recebo uma proposta. Lógico que tenho duas profissões em Juazeiro, porém ficariam balançado, pois é isso que me norteia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário