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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

CRAQUE CAROL DISSE MAIS VERDADES "NUAS E CRUAS" SOBRE O FUTEBOL FEMININO NO BRASIL



A jogadora Carol Rodrigues que neste mês disputou a Copa do Mundo de Futebol Feminino Sub-20, desabafou logo após a derrota do Brasil para a Alemanha por 5 a 1, chegando a dizer que "assistir jogo comendo pipoca era uma beleza" numa pura e simples referência às críticas que a imprensa e população fizeram após às atletas brasileiras após goleada.
Não satisfeita, Carol falou mais na sua rede social. A nossa conterrânea escreve direto de Nova York onde faz faculdade e mais uma vez não poupou críticas e dessa vez foi mais a fundo. Confira abaixo o texto na íntegra:
"NUAS E CRUAS"
Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol?
Em um país machista e preconceituoso que nunca acreditou, aceitou ou investiu de verdade no futebol feminino, é muito difícil para nós sonhar. Que o diga as meninas da Seleção sub-20, derrotadas pela Alemanha por 5 a 1 na última terça-feira, e expostas a uma chuva de criticas e comparações completamente equivocadas, sem nenhum conhecimento sobre a nossa modalidade ou sobre a realidade em que vivemos.

Ficamos chocadas com as manchetes sensacionalistas, as ligações esdrúxulas com a vexatória derrota da Seleção masculina na última Copa do Mundo, e com centenas de baboseiras escritas sobre as jovens atletas que, diga-se de passagem, nem competição sub-20 têm no Brasil para se formarem devidamente como “jogadoras de verdade”.

Esta nota, em comum acordo com mais de 100 atletas do futebol feminino, se faz mais do que necessária e vem em tom de desabafo, não para julgar técnica ou taticamente a partida em questão, nem para competir com o futebol masculino, mas para mostrar que somos de carne e osso, existimos, queremos ser ouvidas, não só nas derrotas e nos vexames, mas nas notícias e no dia-dia. Queremos a exposição dos nossos problemas, assim como dos nossos jogos e campeonatos. Queremos, inclusive, que nos ajudem a cobrar as pessoas e as entidades que têm o papel de zelar pelo nosso esporte e não estão nem aí para ele. Chega!
Não há e nunca houve estrutura que nos permitisse dedicação integral ao futebol. A maioria de nós treina 6 dias por semana, estuda, trabalha e ainda é dona de casa. Somos amadoras e sabemos que não será por meio da “profissão” que, por amor, escolhemos para viver que garantiremos o nosso futuro ou a nossa aposentadoria. Não temos mordomia nem salários astronômicos, no máximo temos acordos verbais e ajudas de custo durante 3 ou 6 meses do ano, período das competições femininas no país.
Vivemos de sonhos. Aliás, se há alguma coisa em que somos realmente craques é em sonhar. Sonhamos com mais clubes e com mais jogos, sonhamos com o reconhecimento por parte da CBF de que se deve investir no futebol feminino, sonhamos que a nossa luta valerá a pena e que o nosso esforço será capaz de pavimentar a estrada pela qual as nossas crianças e jovens se sentirão bem ao praticarem o futebol feminino nas escolas e nos clubes, sem que recebam um olhar ressabiado ou a falta de incentivo da família.

Se um dia as meninas puderem escolher o futebol como profissão, a nossa dedicação terá valido a pena. Aí sim aceitaremos que nos falem de vergonha, de fracasso, de vexame e de atropelamento. Mas antes disso, enquanto as nossas condições de trabalho forem semelhantes a das peladas que você joga aos finais de semana, respeite-nos e entenda que estamos fazemos milagre ao competir de igual para igual com as principais seleções do mundo, que não param de investir e de se desenvolver.
Não queremos ser isca para nos usarem em meio a atual crise do futebol brasileiro como alguns aproveitadores fizeram com as nossas talentosas meninas da Seleção sub-20. Nós, que vivemos o dia a dia, sabemos que o futebol feminino do Brasil está em crise desde a data do seu nascimento, mas estamos dispostas a mudar essa realidade. Basta nos darem a oportunidade, investirem em nós e acreditarem no nosso talento e no nosso amor pelo esporte. Chega de sonhar, é hora de sentar a mesa com a CBF e fazer acontecer, doa a quem doer.

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